O que você vai ler é um o trecho do livro OS GATOS, de Sonia Hirsch. Escolhemos mostrá-lo porque o jeito que a autora escreve sobre os Catos que teve ao longo dos anos nos apresenta uma maneira realista, emotiva e divertida de se descrever a vida ao lado de um bichano. Como poderemos ver, com os gatos não há 8 ou 80. Não são perfeitos, mas também não são más companhias.
“Dentro adoram, pode ser gaveta, armário, cesta, saco de compras e, principalmente, caixa de papelão; dentro redondo, então, é irresistível, mesmo que seja pirex ou embalagem de sushi; fora para tomar sol, paquerar passarinho, sentir o vento passar pelo nariz trazendo histórias nos cheiros; em cima dos guarda-roupas, das prateleiras de louça, da televisão com o rabo no meio da tela, do monitor do micro, do livro ou do jornal que a gente está lendo: dormem e fazem charme; embaixo de cama, poltrona, sofá, colcha, tapete, para dar o bote quando a gente passa; e do lençol, quando a gente quer arrumar a cama; junto conosco na cozinha em qualquer circunstância; longe do aspirador, do liquidificador, de qualquer coisa que faça barulho e do veterinário, que também termina em dor; perto de parapeitos, beirais, janelas e outros lugares que deixam a gente de coração na mão;de papo pro ar, quando faz calor, patinhas largadas ao léu;na gente de noite,quando faz frio: por cima e por baixo das cobertas, no meio das pernas, no meio das costas, em cima da barriga, do lado do corpo, ninguém consegue se mexer: humanos cercados por gatos por todos os lados; tomando banho em grupo, todo mundo lambendo todo mundo, com muita saliva, muito som, as orelhinhas ficam encharcadas; no chuveiro vendo aquelas milhares de coisinhas brilhantes(1) se mexerem(2) fazendo barulho(3): três coisas que gato ama; no bidê bebendo água corrente com a língua a mil por hora; em cima da cristaleira paquerando a mesa do almoço, de barriguinha cheia, mas ‘Quem sabe tem uma coisinha ali pra mim?’; mordendo as perninhas traseiras da gata: o gato, quando quer que desocupe o lugar; correndo a mil pela casa, Tom e Jerry ao vivo e a cores, e ai dos vasos; comendo com os olhos os pombos que passeiam displicentemente debaixo do nariz deles pelo lado de fora da rede; caçando passarinhos no oitavo andar, vitória que só um gato muito contemplativo, calmo, concentrado e sortudo como ‘Bigode’ consegue obter sem despencar lá embaixo; fascinados por baratas: umas delas dura duas horas e meia para três gatos. O jogo é uma espécie de futebol em que a bola está viva. Termina quando acabam as pernas. Da barata.”
(‘Os Gatos’ de Sonia Hirsch)
1996, Editora Mauad.